GEPA - Grupo de Estudo Psicanálise do Acolhimento


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A atividade psicanalítica representa, acima de tudo, uma construção para a transformação individual, tanto do analista quanto da pessoa que se propõe a ser analisado. Está muito além do que é acessível a nossa mente consciente, aos órgãos sensoriais e às teorias, já que é o inconsciente, algo que não se é acessível, é o que sustenta a psicanálise. 

O papel fundamental de uma análise é o re-conhecimento de nossas fragilidades frente às experiências dolorosas da vida com a possibilidade de ser acolhido. Não é uma busca por um conhecimento específico, mas, trata-se de expandir o pensamento num ambiente de vínculo e experiências de amor, respeito, sem cobranças ou expectativas.

Tudo isso é preciso para que seja possível cada um lidar com as descobertas sobre si mesmo, integrando o nosso emocional com o nosso todo,  ligando cada experiência de vida, dando sentido ao desconhecido que está representado por sintomas e desconfortos diversos.

Para isso, é preciso ter coragem, pois, é transformação de dentro pra fora, do eu para comigo mesmo, da responsabilização de se ser, apropriar-se, reivindicar-se. É a percepção de que as experiências dolorosas contribuíram para a construção do verdadeiro eu, e não de relações vazias que se mantinha consigo e com o mundo.

É libertação das angústias, da falsa sensação de que se tem o controle do passado e do futuro; tornar-se autoconfiante e ser capaz de tolerar as próprias falhas. É saber que o imprevisível é real e que ninguém é isento de chorar, de amar, de perder e, acima de tudo, que não existe cura, e sim, uma pró-cura para a cada dia ter possibilidade de fazer a manutenção do reconhecimento do próprio eu.

"Bem, na prática psicoterapêutica, dois componentes são essenciais e fundamentam toda evolução que possa existir nesse processo. Falo do amor, na capacidade afetiva do analista em receber e acolher os conteúdos do paciente, e da verdade, na capacidade de ser real junto ao paciente, desprendendo-se das dissimulações que a vida em sociedade nos obriga amar e articular. [...] As normas que regem a sociedade, via de regra, não levam em conta a dor psíquica, até que ela insurja no corpo físico, numa manifestação psicossomática." (Renato Martino, em ACOLHIDA EM PSICOTERAPIA, 2018).

Durante a análise, as palavras ditas, ou o silêncio, com livre associação de ideias, resgata uma expansão do que vai além do verbo, da coerência sequencial e cronológica de uma mente roteirizada, análogo ao conflito do medo e do desejo de liberdade. Mas, é a forma que você mesmo, de forma livre, sem interferências tóxicas, tem a possibilidade de ser uma nova pessoa, ou ser você mesmo através de uma escuta desprovida de julgamentos, críticas e censuras, para que os restos de sofrimento de sua mente possa se remover por si só. 

O espaço analítico é a constituição de um lugar saudável para que suas verdades possam aflorar e serem acolhidas pela figura do analista, ressignificando suas experiências, mas, ciente dos próprios limites e com a possibilidade de elaborar recursos internos para lidar com sua própria realidade.

Então, o amor e a verdade devem ser sempre a base desse vínculo, entre analista e analisando, que é a forma mais saudável de relacionamento e a faculdade mais nobre de toda pessoa. Também, este vínculo é a extensão do amor que se tem por si próprio, sem atuações convenientes e exigências do mundo externo. E, mesmo que esse contato com o real parece ser insuportável, este é realização nutrida, estruturada e eficaz de lidar com cada conflito interno.  

Referências bibliográficas:

Aulas no GEPA Grupo de Estudo do Acolhimento, sob a supervisão do professor Renato Dias Martino
 
MARTINO, Renato Dias. Primeiros Passos Rumo à psicanálise. 1 ed. São José do Rio Preto - SP: Vitrine Literária Editora, 2012.

MARTINO, Renato Dias. O livro do desapego. 1 ed. São José do Rio Preto - SP : Vitrine Literária Editora, 2015.

MARTINO, Renato Dias. Acolhida em Psicoterapia. 1 ed. São José do Rio Preto - SP : Vitrine Literária Editora, 2018.