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Psicanálise, Sociologia, Antropologia, Filosofia e Política

Postado em por Erico Mabellini

Introdução

           Este trabalho terá como seu desenvolvimento pesquisas históricas, sociológicas, antropológicas, políticas e filosóficas com a finalidade de realizar um estudo onde estará contida a contribuição da psicanálise para essas ciências, assim como a contribuição dessas ciências para a psicanálise.
        Autores clássicos e contemporâneos que se utilizaram da psicanálise para seus estudos na antropologia e na filosofia.
           Enfim, como se deram as ricas trocas de estudos entre estas diversas ciências e a psicanálise e como essa troca contribuiu para o enriquecimento do conhecimento da mente humana e de sua evolução social.
          Esta abordagem é relevante, porque o ser humano é um complexo de condições que o inserem em seu habitat e também pelas relações que ocorrem entre nós. As diferentes culturas e épocas propiciam diversas formas de comportamento e este será o objeto deste estudo. Por essa razão os quatro primeiros capítulos estão em ordem cronológica das edições das referentes publicações.
         Este trabalho não tem a pretensão de ser uma verdade absoluta sobre o tema e muito menos esgotar o mesmo. Haja visto tão grande período histórico abrangido e tantos problemas e mudanças sociais ocorridas nesse lapso de tempo de 107 anos. 
          E finalmente, mas não menos importante, este trabalho é também uma forma de homenagear alguns dos autores que trouxeram a mim o conhecimento da psicanálise e a vontade de estudar a mente humana individualmente e suas implicações político-sociais.

1. Totem e Tabu (1913-1914)

         Em Totem e Tabu, Freud dá início aos seus estudos mais aprofundados de como a psicologia (ou a mente) humana pode ser estudada através de uma união com a antropologia, mesmo que os estudos da psicanálise levem a conclusões diferentes para cada uma das matérias estudadas. 
         O totem é aquilo que é admirado e cobiçado, ou seja, nas tribos estudadas por alguns antropólogos anteriores e contemporâneos a Freud, temos um totem que traduz o poder e a força para todos aqueles que o admiram. Para Freud, portanto o totem pode significar o falo que possui o mesmo significado.
         Já o tabu são as proibições que são inseridas em determinada sociedade. Ou seja, algo que é proibido de ser feito, caso contrário acarretará sérias e amargas consequências para o transgressor. Sendo que, aquele que faz o que é proibido, isto é, que viola o tabu, se torna ele próprio um tabu. Em certas tribos seriam expulsos ou até mesmo mortos, em nossa sociedade são afastados da sociedade, da família ou em uma linguagem mais contemporânea, cancelados. 
       Aquele que viola o tabu possui o perigoso poder de ser um exemplo, de tentar o outro a fazer o mesmo, por isso necessita ser de alguma forma punido. É uma espécie de ser contagioso e isso se demonstra com o afastamento de outros, daquele que quebra o tabu.
       Existem também as pessoas e situações que são por si só um tabu. O rei ou chefe desperta inveja por causa de seus privilégios, portanto ele é inatacável e inatingível. A vilipendiação de cadáveres, as crianças pequenas e as mulheres menstruadas ou grávidas, também são tabus devido ao seu desamparo, e portanto deve-se criar alguma ferramenta para inibir que sejam abusados, nesse caso o tabu.
 
"O tabu de um rei é forte demais para um dos seus súditos porque a diferença social entre eles é muito grande. Mas um ministro poderá servir, sem qualquer dano, de intermediário entre eles." (Freud, 1913-1914, pg. 29).

       Colocando-se em tempos atuais, teríamos a seguinte situação: uma pessoa comum não pode se aproximar de um magistrado ou de um presidente da republica, deve tratar com um funcionário de menor escalão do qual não precisa ter tanta inveja.
       Finalizando esta primeira etapa, podemos dizer que: a raça humana possui três grandes representações do universo: animista (ou mitológica), religiosa e científica. Podemos dizer que o animismo contém os fundamentos sobre os quais as religiões posteriormente foram criadas. E hoje temos os três, animismo, religião e ciência como sendo as bases de nossos totens e tabus.
         A partir daqui teremos o pai da psicanálise procurando decifrar o homem e a sociedade, como vemos no próximo capítulo.

2. O Mal-estar na Civilização (1930)
 
         Um pouco mais tarde, Freud realiza suas reflexões sobre o fato de que as relações entre homens são profundamente influenciadas pela quantidade de satisfação instintual e, pensando dessa forma, um homem pode fazer uso da capacidade de trabalho ou escolha o outro como objeto sexual e, por ultimo, todo indivíduo é inimigo da civilização, embora necessite da mesma. 
       A humanidade sente o peso e sacrifícios que a civilização dela espera, a fim de tornar possível a vida comunitária. Conclui que a civilização e suas instituições são criadas para efetuar uma distribuição de riqueza que seja imposta a uma maioria para o benefício de uma minoria e que detém o poder. 
        Freud passa então a realizar uma analogia com sua obra anterior e a concluir que, os tabus, as leis e os costumes impõem novas restrições, que influenciam tanto homens quanto mulheres. E que, a estrutura econômica da sociedade também influencia a quantidade de liberdade sexual.

"O trabalho psicanalítico nos mostrou que as frustrações da vida sexual são precisamente aquelas que as pessoas conhecidas como neuróticas não podem tolerar. O neurótico cria em seus sintomas satisfações substitutivas para si, e estas ou lhe causam sofrimento em si próprias, ou se lhe tornam fontes de sofrimento pela criação de dificuldades em seus relacionamentos com o meio ambiente e a sociedade a que pertence. Esse último fato é fácil de compreender; o primeiro nos apresenta um novo problema. A civilização, porém, exige outros sacrifícios, além do da satisfação sexual." (Freud, 1927-1931, pg. 68).

         Com isso, o temor das classes dominantes de que haja uma revolta por parte dos elementos oprimidos a conduz à utilização de meios mais trabalhados de opressão.
          O desenvolvimento da civilização impõe restrições a ela, e a justiça exige que ninguém fuja a essas restrições.
           Concluindo, a opressão da satisfação sexual faz com que a sociedade e o individuo não permitam que a vida em sociedade seja perturbada através do instinto humano da agressão e da autodestruição.  No entanto, a sociedade civilizada vê-se constantemente obrigada a silenciar sobre muitas transgressões que, segundo os seus próprios princípios, deveriam ter punidos, tudo em nome do controle da civilização .

3. Revolução Sexual (1936)

          Um trabalho que pretende demonstrar as contribuições sociais da psicanálise para a humanidade, não poderia deixar de conter esta obra do médico e psicanalista Wilhelm Reich.
         Aluno de Freud, Reich logo percebeu o cerne da mensagem de seu mestre em seu escrito O Mal Estar da Civilização, onde o próprio Freud explana a opressão de uma classe majoritária por uma outra minoritária, além das repressões sexuais impingidas pela sociedade com o intuito de controlar a agressividade humana. No entanto seus estudos não foram bem recebidos por seu mestre e filha, assim como seus trabalhos voltados para um conceito politico de esquerda, e consequentemente foi expulso por Ana Freud da Associação Psicanalítica. 
          Na década de 30, Viena praticamente explodia em convulsões sociais e Reich muda-se para Berlim, e com um grupo de amigos médicos foram realizar atendimentos gratuitos para a população pobre, principalmente crianças e gestantes. Inicia então um trabalho intitulado "SexPol" - Sexo e Política.
          Em 1933, Reich foge da Alemanha nazista para a Dinamarca com sua família. Na Alemanha, o partido nazista já literalmente queimava seus livros.
         Reich foi o primeiro psicanalista a sentar-se em frente ao analisando para observar suas reações corporais. Também realizou estudos com a respiração e o toque no corpo dos pacientes.
       Em 1935, devido à II Guerra Mundial, Reich vai para os Estados Unidos e ali consegue comprovar cientificamente a existência da energia sexual. Reich também cria a vegetoterapia, onde correlaciona a mente, a alma e o corpo. 
        Em 1955 foi chamado de charlatão e inclusive preso nos EUA por seus estudos com a energia Orgone, mas hoje a neurobiologia inicia os estudos nesse campo.
Reich morre na prisão no ano de 1957, no entanto 10 anos mais tarde, seus escritos voltam a circular, e muitos de seus princípios sociopolíticos tornam-se a base para um movimento que no ano de 1968 cria toda uma revolução sexual e social que se espalha pelo mundo.
       Sua tese de que não há revolução social sem revolução sexual, entendendo por sexualidade as relações afetivas, comunicantes, pessoais, etc. Reich reivindicou a função da sexualidade não como uma mera realização do coito, mas como a fusão com o outro. A vivência plena do amor e da sexualidade era vista por ele como fator indispensável para a satisfação emocional.
     Em seu livro Revolução Sexual, Reich explica que a sexualidade natural é insatisfeita e, como consequência, cria neuroses devidas à sua supressão pelo Estado autoritário. Onde, cada pai representa a autoridade absoluta, tal como o Estado.
      Nesse Estado, os cidadãos além de reprimirem seus desejos naturais, criam novos, neuróticos e doentios desejos sexuais. O que aumenta o poder do Estado autoritário.

4. Eros e Civilização (1955)

        Em seu ensaio, Eros e Civilização, o filósofo Herbert Marcuse diz que a sua preocupação não é com uma interpretação corrigida ou aumentada dos conceitos freudianos, mas com as suas implicações filosóficas e sociológicas desses conceitos.
        A questão central para Marcuse é desvendar a possibilidade de uma civilização não-repressiva. Partindo do axioma de Freud segundo o qual toda civilização funda-se sobre a repressão dos instintos, mostrando como ela se origina tanto no indivíduo como na espécie. E, demonstra que a história da civilização e do progresso é a história da repressão e como a filosofia ocidental ao enfatizar a razão em detrimento da sensualidade, serviu como lógica da dominação.

"... o preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma perda de felicidade pela intensificação do sentimento de culpa" (FREUD,S. 1974, p.185).

       O sentimento de culpa é ao mesmo tempo condição fundamental para a própria existência da civilização, e algo cuja intensificação perpetua o sistema organizado de dominação.  Marcuse aponta que todas as rebeliões serviram para substituir um grupo dominante por outro, mas não alcançaram seu principal objetivo: a abolição da dominação e da exploração. A facilidade com que essas revoltas foram derrotadas pela dominação requer uma explicação:

"Em todas as revoluções parece ter havido um momento histórico em que a luta contra a dominação poderia ter saído vitoriosa... mas o momento passou. Um elemento autoderrota parece estar em jogo nessa dinâmica (independente a validade das razões tais como a prematuridade e a desigualdade das forças)." 

       Ou seja, os processos que criam o ego e o superego também modelam e perpetuam instituições e relações sociais específicas. Os conceitos psicanalíticos como sublimação, identificação e introjeção não possuem apenas um conteúdo psíquico, mas também social: terminam em um sistema de instituições, leis, agências, coisas e costumes que enfrentam o indivíduo como entidades objetivas. 

     Para Marcuse, somente quando todos os indivíduos tiverem acesso às riquezas produzidas pela "sociedade da abundância", não apenas um pequeno grupo de pessoas, e, sobretudo, quando a produção desta riqueza não estiver mais vinculada ao aumento da repressão, consequentemente da culpa.  Somente sob essas condições teremos a felicidade.

5. Filosofia 

      A princípio devo destacar que, Freud não era um filósofo e nunca pretendeu que a constituição da psicanálise o aproximasse do trabalho filosófico.
       No entanto a interlocução bastante viva entre psicanálise e filosofia atravessou a totalidade do século passado, (e continua no século atual), de modo a manter uma verdadeira história entre as duas disciplinas. A psicanálise incorporou uma série de ponderações críticas formuladas pela filosofia, da mesma forma que esta também inscreveu, no seu corpo teórico, uma série de questões enunciadas pela psicanálise. Aconteceu, enfim, um rico processo de interpelação, que fertilizou ambas as disciplinas. 
       Mesmo que certa vez Freud tenha comparado a filosofia à esquizofrenia, no contexto de constituição da psicanálise, Freud aproximava esta da filosofia e a afastava da medicina. Enfim, a psicanálise nada tinha a ver com a prática médica e não tinha qualquer pretensão terapêutica, estando bem mais próxima da filosofia. Donde se conclui que para Freud sempre existiu uma franca aproximação e um absoluto distanciamento, entre psicanálise e filosofia. 
       Por fim, o discurso freudiano acabou por incorporar também alguns dos enunciados críticos formulados pela filosofia, não obstante as reticências de Freud em face desta.
       Impossível falar de psicanálise e filosofia sem dar ao menos algumas linhas a Foucault. Sua teoria sobre a psicanálise não é apenas uma, mas varias ao longo de sua obra. Uma delas é que, a psicanálise não pode se desenvolver como uma teoria geral do homem, ou como uma antropologia, já que, pelo caminho do inconsciente, não se pode atravessar todo o campo das representações. Para ele a psicanálise não pode assumir a "forma de uma ciência empírica construída a partir de observações cuidadosas." (FOUCAULT, 1999b, p.521). 
      Concluindo, é enriquecedor, estudar o pensamento de Foucault com relação à psicanálise e elucidar em que pontos Foucault destaca os modos como a psicanálise é apreendida nas malhas do poder e como também escapa até ser uma via de fuga dessa sociedade. 
       Pontos interessantes e complexos que iriam requerer uma escrita apenas para essa finalidade, por isso, no presente trabalho, apenas farei esta breve menção a Foulcault e sua sempre presente discussão com a teoria psicanalítica.

6. Sociologia 

       É verdade que a psicanálise tomou como tema a mente individual, mas, ao fazer investigações sobre o indivíduo, não podia deixar de tratar da base emocional da relação dele com a sociedade. 
Freud descobre que os sentimentos sociais contêm invariavelmente um elemento erótico - elemento que, se for superenfatizado e depois reprimido, tornar-se-á um dos sinais distintivos de um grupo particular de distúrbios mentais. A psicanálise reconheceu que, em geral, as neuroses são associais, ou seja, visam sempre a impulsionar o indivíduo a excluir-se da sociedade e a isolar-se em si mesmo nos primeiros dias da doença.
      Demonstrou-se também que o intenso sentimento de culpa que domina tantas neuroses constitui uma ansiedade neurótica social. A psicanálise demonstrou plenamente o papel desempenhado pelas condições e exigências sociais como causadores de neurose. As forças que, operando desde o ego, ocasionam a restrição e a repressão do instinto, devem fundamentalmente sua origem à submissão às exigências da civilização. 
      A afirmativa de que o aumento de distúrbios nervosos constitui um produto da civilização é pelo menos uma meia-verdade. 
    Olgária Matos (2003), em entrevista, discursa sobre Erich Fromm e da relevância do teórico para compreensão das questões econômicas por meio de um viés afetivo:

"Realmente, ele é um autor injustamente esquecido, como durante muito tempo também Marcuse foi esquecido, e agora começam alguns estudos a serem retomados, mas de fato ele tem uma das contribuições mais interessantes para a filosofia, para a antropologia e para a psicanálise, porque ele trabalha diretamente a questão da dominação e a questão da liberdade. Em vez de buscar aquelas determinações econômicas da vida psíquica, no sentido marxista, ele dá uma figura afetiva a essa questão econômica e mostra que para você liberar o trabalhador do seu fardo, teria que primeiro liberar o trabalhador do próprio trabalhador. Então o tema da alienação foi trabalhado de uma maneira muito interessante por Erich Fromm. Eu espero que seja retomado um estudo do pensamento dele, porque realmente é uma injustiça acadêmica, social e política, ele não estar sendo suficientemente estudado. Recentemente, questão de um ou dois anos, houve um encontro de filosofia alemã em São Paulo e houve uma mesa dedicada ao pensamento de Erich Fromm. Ainda não foi publicado. Espero que essas contribuições apareçam em breve." (MATOS, 2003, p. 1).

       Por fim, a civilização se instaura a partir do deslocamento da agressividade individual para a agressividade estatal - sendo o estado um corolário do grupo -, nesse momento o estado se torna o monopolizador da agressividade e da violência, assim ocorre um rebaixamento da intensidade dos sentimentos de medo e de ansiedade, sendo estes, um dos benefícios da saída do estado de natureza do homem.


7. Antropologia

         O antropólogo Viveiros de Castro diz que o psicanalista não é uma pessoa é uma função social. E o psicanalista Christian Dunker diz que essa função social é a de um Xamã. E seriam duas funções de Xamã: a do xamã guerreiro (horizontal) sempre procurando inimigos para reafirmar sua identidade e o xamã vertical que é aquele que guarda as relíquias sagradas, é o guardião de um saber precioso. Viveiros de Castro diz que existe um terceiro tipo de xamã, o xamã transversal, que vive como um diplomata é o solucionador de problemas práticos porque fala várias línguas. Esse é o psicanalista.
         Existe na estrutura de "Totem e tabu", que é um texto que não envelheceu, um método que exige que façamos dele um objeto de atualização constante, para verificar se a estrutura dos fenômenos sociais atuais que observamos, mudaram realmente nos últimos tempos. 
       Além do paciente, a sociedade enquanto instituição deveria também deitar-se no divã. Para compreender o sintoma do neurótico é necessário também inseri-lo no contexto cultural no qual ele vive. Em outros termos, o neurótico não é um simples doente dos nervos, ele é, na realidade, um dissidente da sua cultura. Se o neurótico tem sintoma é porque ele é o sintoma da sua cultura. 

"O discurso social coloca a questão: Por que os sujeitos estão doentes no trabalho? E este mesmo discurso inventa o burnout, como forma de explicação. Ou então: o que fazer com o sujeito que está traumatizado? E aí eles inventam a resiliência." (LINDENMAYEREntrevista com Paul-Laurent Assoun).[online]) 

8. Política

         É possível dizer que o critério de neutralidade política estabelecido por Freud refere-se à relação analítica, o psicanalista não está proibido de se manifestar politicamente no espaço publico. O próprio Freud se posicionou politicamente com relação ao seu judaísmo durante a II Guerra Mundial.
           Já a militância política por parte do psicanalista é algo que deve ser visto com maior reserva.
         Mas o psicanalista pode e deve interferir politicamente com seus escritos e estudos sobre o indivíduo e a sociedade. 

A visão de Foucault

         Para Foulcault a psicanálise cumpre um papel de biopolítica, e dependendo do local, país ou cultura na qual se encontre, poderá exercer um papel biopolítico libertador, denunciador, contestador e até mesmo opositor à biopolítica. 
         Não podemos afirmar categoricamente, que a psicanálise seja uma ferramenta da biopolítica. Por essa razão temos argumentos contrários e favoráveis a essa tese:

1. Foucault afirma que a psicanálise nega a degeneração social, e por isso difere da psiquiatria e da medicina do século XIX. Essa característica tem grande importância política, pois, ao negar a degeneração social, a psicanálise afasta-se de qualquer teoria racista, impossibilitando que, através dela, afirme-se qualquer forma de controle racial, ou que se use o seu saber para tentar purificar um determinado modo de vida, ou para explicar a valoração ou a desvaloração de um determinado tipo de vida. Por estes aspectos, a psicanálise afasta-se de ser um instrumento da biopolítica, sendo até mesmo um meio de contestação, já que a biopolítica visa controlar e classificar as populações.

2. Por outro lado, ao devolver o indivíduo ao seio familiar, por meio da análise e da estabilização do triângulo familiar (pai-mãe-filho), permite que o dispositivo familiar seja acionado, tornando o indivíduo um objeto dócil e útil. Não é a psicanálise que produz docilidade e a utilidade do indivíduo, mas a família para a qual o indivíduo retornou por intermédio da análise. A psicanálise permite que a família aplique o dispositivo disciplinar, já que a análise devolve o indivíduo ao núcleo familiar.
   No caso específico do Brasil, a psicanálise tem também um caráter de luta política, pois, ao impedir a repetição da ligação da cura ao poder "realizada pelo biopoder" e denunciar a cumplicidade entre os psiquiatras e o poder, assume um papel libertador.

Conclusão

         Por tudo o que vimos, podemos concluir que a psicanálise esteve sempre presente nas lutas contra a repressão ao ser humano, seja por si mesmo ou pela sociedade. E qual será a próxima etapa para a libertação do individuo?
       A principio podemos avaliar que a sociedade ocidental impõe ao individuo um ideal de felicidade. Sendo que o consumo é marco de felicidade e objeto de desejo.
       No entanto temos em uma sociedade indivíduos que não conseguem atingir a esse ideal de consumo e se neurotizam, seja ficando alheios ou afastados da sociedade, ou então entrando em um circulo vicioso de trabalho, consumo e trabalho que acabará gerando o estresse.  
      Temos também no Brasil e outros países a segregação social, seja pela opção sexual, raça, credo ou posição financeira. O que leva a outras neuroses sociais.
        Enfim, ainda temos muito a estudar para fazer do convívio humano algo saudável para todos.

Referências bibliográficas
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FREUD, Sigmund. Totem e tabu e outros trabalhos (1913 - 1914) ? Vol. XIII. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1913. 
FREUD, Sigmund. O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927 ? 1931) ? Vol. XXI. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1927.
LINDENMAYER, Cristina. A Antropologia Psicanalítica: uma chave para pensar o contemporâneo. Entrevista com Paul-Laurent Assoun. [Online]. Disponível em: . Acesso em: nov. 2020.
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MATOS, Olgária. Entrevista com a filósofa Olgária Matos. [Online]. Disponível em: . Acesso em: nov. 2020.
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SANTOS, Alan. As Relações entre Psicanálise e Sociologia: Um Estudo Exploratório. [Online]. Disponível em: . Acesso em: nov. 2020.