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Freud: O Início e Seus Contemporâneos

Postado em por Erico Mabellini

Estamos na Europa do final do século XIX, a cultura se renova. Diversos artistas, cientistas, filósofos, e outros acadêmicos apresentam novas teses que mudariam o mundo para sempre.

A revolução industrial marca o final do século XIX como o período de ascensão de diversas áreas do conhecimento. A Europa fervilha com novas artes, teorias e descobertas.
 
Para ficarmos apenas em Viena tínhamos, o pintor Gustav Klimt, o arquiteto Camillo Sitte, o escritor Arthur Schnitzler, Gustav e Alma Mahler, além é claro do jovem médico Sigmund Freud. 

O jovem e promissor médico de Viena, com especialidade em psiquiatria e neurologia, começa a se interessar pelos males da mente humana e o sofrimento daqueles que não podiam controlar suas ações em razão de doenças mentais pouco conhecidas.

Ao tomar conhecimento de que um médico neurologista francês, chamado Jean-Martin Charcot, estaria obtendo sucesso na cura de doenças mentais através da hipnose, viaja a Paris para conhecer esse novo método para conhecer novas possibilidades para o tratamento da histeria.

Ao voltar de Paris e já utilizando o método da hipnose no tratamento de seus pacientes, une-se, no ano de entre 1893 e 1896 ao médico Josef Breuer, que tratava seus pacientes fazendo com que os mesmos descrevessem suas fantasias e alucinações. Passam então a utilizar a hipnose, pois com o uso dessa técnica era mais fácil acessar as memórias traumáticas dos pacientes. Freud e Breur trabalham juntos com a utilização desse método de análise ao qual nomeiam de método catártico, isso até o ano de 1887, quando Breuer rompe com Freud por não aceitar algumas de suas teorias, não sem antes publicarem juntos, uma das obras primordiais da psicanálise, "Estudos Sobre a Histeria". 

Primeira Estrutura

Durante a primeira estrutura, Freud conclui que o inconsciente mantem censuras internas reprimidas. Essa conclusão permitiu a Freud organizar o aparelho psíquico em três instâncias psíquicas: Ics (inconsciente), Pcs (Pré-consciente) e Cs (consciente).

Em seguida, Freud concebe, com seus estudos sobre o desenvolvimento psicossexual, que a maioria dos desejos reprimidos possuem referência nos problemas de ordem sexual existentes na tenra infância, e que esses problemas viriam a surtir efeitos nos sintomas atuais de seus pacientes. Nesse mesmo período, Freud estuda outro processo, que seria o complexo de Édipo.

Para Freud, o funcionamento psíquico também passa por uma pulsão que possui fonte, magnitude, finalidade e objeto. Também caracterizou as pulsões como pulsões do ego, pulsões sexuais, pulsões de vida e pulsões de morte.

Segunda Estrutura

Nesta fase, Freud apresenta os conceitos de id (pulsões regidas pelo princípio do prazer), ego (um regulador, que busca atender aos desejos considerando as questões da realidade) e superego (busca a regulação moral através das exigências sociais e culturais).

Dessa forma e com diversas nuances e detalhes que não cabem nesta breve redação. Estava formatado o conceito de estudos de Freud sobre a mente humana. Mas a psicanálise era e ainda é recente, e nasceu como um estudo da mente onde diversas outras análises e estudos de estudiosos contemporâneos vieram a somar-se aos estudos iniciais de Freud. 

Contemporâneos

Karl Abraham - Discípulo de Freud e com estudos de extrema relevância, principalmente sobre a melancolia.

  • Sándor Ferenczi - Pertence à primeira geração dos psicanalistas, sua grande contribuição foi a ideia da criação de um pequeno grupo de homens que seriam analisados pessoalmente por Freud, o que acabou por dar origem à análise didática. 

  • Wilhelm Reich - Discípulo dissidente de Freud. Estudou o poder que se estabelece nas relações sociais e suas consequências emocionais e psicológicas. Criou uma nova abordagem terapêutica que engloba processos orgânicos e energéticos do corpo humano. Terapia esta denominada Psicoterapia Reichiana.

  • Carl Jung - Discípulo de Freud, rompe com o mesmo ao desconsiderar dar extrema importância às teorias sexuais e enveredar pelos estudos de mitos e símbolos onde a sociedade formaria o individuo através da história e de seus arquétipos, existindo então um inconsciente coletivo.

  • Melanie Klein - O desafio de Klein para a psicanálise de seu tempo foi introduzir o brincar como forma de expressão das crianças. Ampliando a técnica de atendimento das crianças por meios lúdicos.

  • Donald Woods Winnicott - Em razão do seu treinamento como médico pediatra, ele concentrou seus estudos nas crianças, especialmente no relacionamento entre a mãe e o bebê. Trabalhou com crianças afastadas de seus pais em razão da II Guerra Mundial.
É seu o conceito da "mãe suficientemente boa" (não necessariamente a própria mãe do bebê). Ela é quem proporciona o cuidado necessário ao bebê, espontânea e sinceramente. Essa mãe dá origem a um self verdadeiro, ou a um verdadeiro eu.

  • Wilfred Bion - Seguidor de Melanie Klein, desenvolveu alguns dos seus conceitos tais como a expectativa inata do seio como objeto de satisfação do bebê, o papel do afeto envolvendo sentimentos como a ansiedade, a inveja, o ódio, etc., as posições paranoides, esquizoides e depressivas, o núcleo psicótico da personalidade, entre outros. Realizou relevantes estudos e práticas sobre trabalho com grupos.

  • Jacques Lacan - Partilhou pontos de vista com Sigmund Freud, mas também divergiu em relação a algumas de suas ideias. Ao inconsciente, conferiu uma outra estrutura; ao desejo, uma nova abordagem; ao ser humano, uma nova perspectiva. Isso exemplifica a eterna renovação da psicanálise, mesmo que nunca esteja imune a criticas. 

Conclusão

O repertório que Freud e seus diversos e valiosos contemporâneos trazem para o estudo da mente humana é seguramente valiosíssimo. Todos atenderam a pontos importantes e, mesmo que não tenham conseguido respostas definitivas, introduziram na discussão da mente humana, a filosofia, a antropologia e a linguística como disciplinas que completam a compreensão de nosso ser.