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Descobrindo coisas a cada dia, em mim e nos outros

Postado em por Janice Mansur

Ilusões são fortes. E algumas pessoas acham que ser iludido é acreditar em príncipe ou princesa encantada.
É vibrar positivo e pensar que vai ganhar na loteria, ou se virar o ano, tudo muda para melhor.

Mas não. Ilusão é algo mais profundo, nesse sentido, e algo capaz de possibilitar a realização de desejos e proteção.
Ilusão assim representaria uma resistência (defesa) ao princípio da realidade, mas também uma forma de manutenção do prazer, satisfação.

Cf. Freud, 1927, Ilusões  não seriam um "erro", mas derivariam de desejos humanos sem necessariamente estar em contradição com a realidade.

De fato, a ilusão poderia ser algo que não precisa ser verificável, pois muitas vezes pode-se desprezar sua relação com a realidade.

A ilusão poderia gerar uma defesa do sujeito contra as imposições do princípio da realidade e se tornar um elemento de defesa e alienação no movimento,  no processo, de constituição subjetiva.

Preservar um estado de coisas ideal e não real, ajuda o sujeito a não se deparar com o desamparo existencial.

O sujeito não aceita algo que se mostra cristalino à vista de outros, por exemplo, negando até o fim algo que está claramente fazendo parte da realidade.
No entanto, não há condição psíquica de ele se deparar com a realidade tal qual se apresenta, pois isso geraria uma cisão interna do sujeito.
Nesse caso, o sujeito tem a necessidade (um desejo compulsivo, se podemos dizer assim) de permanecer dentro da ilusão que o alimenta em parte.

Para Winnicott (1965/68), ilusão não apontaria para realização de um desejo, nem se referiria à busca de um ideal a ser alcançado, nem outras coisas, mas implicaria uma espécie de criação de um mundo intermediário entre a realidade pessoal e a realidade externa, numa espécie de paradoxo, a fim de manter-se como tal.

Enfim, pelo que entendo hoje, a ilusão é uma espécie de território, solo onde o sujeito precisa pisar para ir se constituindo subjetivamente.

Entre Freud e Winnicott ainda há autores e muito mais discussões, mas não me sinto capacitada a desnudar.