Blog GEPA - Grupo de Estudo Psicanálise do Acolhimento
Sobre a Ansiedade e o Processo Psicoterapêutico
Postado em por Victor Paulino Faria
A incapacidade de estar no presente é fruto de uma causa que já foi presente, mas que agora jaz no passado. A investigação "arqueológica", como propôs Freud, terá pouca ou nenhuma valia no âmbito da elaboração das mazelas emocionais-afetivas na integração do psiquismo do sujeito. Saber sobre não nos capacita a tolerar o que se sabe. Em muitos casos pode até ter um efeito inverso, quando o sujeito começa a se cobrar demais por uma mudança de comportamento baseado no conhecimento adquirido.
Um olhar não para o passado, mas para o presente poderá render bons frutos. O sujeito com dificuldade de viver o presente se apoia no passado para se impulsionar ao futuro. O resultado é uma constante insatisfação com a vida, pois nada no presente será suficiente, é no futuro que estará essa satisfação. Mas o futuro será sempre futuro, ele nunca vai chegar. O que está ao alcance é apenas o presente e não viver o presente significa, então, viver sempre frustrado. A todo momento metas são criadas, não metas materiais, mas metas emocionais. A felicidade estará sempre no próximo momento, na próxima hora, na próxima relação, na próxima viagem, na próxima festa.
Essa é a dinâmica do ansioso. E como ter uma melhor qualidade de vida diante do que foi exposto? Uma coisa é certa, tratar a ansiedade como o bicho e não como a cauda de um bicho que é bem maior é tentar tapar o sol com uma peneira. Ansiedade é sintoma e sintoma não se cala, se escuta. Nossa mente é como a Hidra de Lerna da mitologia grega e os sintomas são as suas várias cabeças. Se deceparmos uma cabeça, nascerão outras duas no lugar.
O processo psicoterapêutico é uma possibilidade de um olhar para o presente e trabalhar nele os sintomas de uma causa passada, através do que a psicanálise chamou de transferência. O trabalho em cima da transferência com o analista permitirá àquele que procurou análise estar em maior acordo com a realidade sem padecer do passado, tolerando a si mesmo no aqui e agora. A felicidade ou, em outras palavras, a paz, a calma, o regozijo, a realização, não será mais uma meta para o futuro, mas uma consequência imediata do presente.
Victor P. Faria
[disponível em www.acolhendopensamentos.blogspot.com]

