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Sobre a psicanálise pelo plano de saúde

Postado em por Victor Paulino Faria

A questão da psicanálise pelo plano de saúde suscita alguns pontos a serem pensados. Quando alguém busca fazer análise pessoal existe uma demanda de sofrimento que o faz se movimentar neste sentido. Essa demanda inclui, necessariamente, o outro, mesmo que este outro não seja verbalmente incluído na sua queixa primária. Portanto, estamos falando de uma dor que é relacional, uma dor que se repete nas relações durante a vida daquele sujeito. O ponto fundamental aqui é que se uma relação é a ligação entre um sujeito e um objeto, o plano de saúde entraria como um terceiro elemento a ocupar um espaço onde só cabem dois. 
    A tarefa principal da psicanálise é capacitar aquele que a procura a se responsabilizar pela sua vida, a partir do reconhecimento e do respeito dos seus próprios limites, da sua singularidade, proporcionando maior tolerância consigo mesmo e com as frustrações inerentes a vida. Sob essa perspectiva, o analisando inicia a análise em uma posição de vítima do outro, de simples objeto de satisfação do outro e, com o passar do tempo, vai assumindo a posição de sujeito da própria vida, que se responsabiliza pelo seu lugar nas suas relações e que constrói a sua história com o outro, sem o outro e apesar do outro. Se estamos falando que a análise pessoal é a possibilidade de ampliar a percepção que se tem da própria responsabilidade diante de um outro, ou seja, das suas funções em uma relação, muito será perdido com a inclusão de um terceiro a reger normas, tais como o valor das sessões, a frequência, a duração e até mesmo ser uma garantia de um serviço bem prestado pelo psicanalista (em caso de insatisfação com o profissional, ligue para?).
    Há quem diga ?mas eu faço análise pelo plano de saúde e gosto muito, me sinto muito bem?. O objetivo de uma análise não é fazer com que o paciente fique bem, mas capacitá-lo a estar de acordo com a realidade e a se responsabilizar pelo seu lugar nela. Para ficar bem existe uma série de lugares com essa proposta, podemos ir a uma casa espírita para tomar o passe, a uma sessão de Reiki, um massagista, acupunturista, psicoterapeutas comportamentais e por aí vai. O compromisso da psicanálise não é com a sensação de bem estar, mas com a verdade. 
    A potência da psicanálise está no trabalho que é realizado pela dupla analítica através do acolhimento e análise das questões incidentes sobre a relação ao longo do tempo e que normalmente nos sentimos inibidos de tratar, tanto por serem questões demasiadamente incômodas quanto por não podermos contar com um ambiente saudável fora do setting terapêutico. O êxito da análise pessoal vai depender da sinceridade e transparência do vínculo que será construído entre o analista e o analisando. As possíveis interferências a esse vínculo, como no nosso caso aqui do plano de saúde, manterão de pé aquela mesma ilusão de vitimização que levou o sujeito a procurar análise, na qual haverá sempre um outro que rege, que normatiza e se responsabiliza por ele, tal como ocorre na vida de uma criança.

Victor P. Faria
[disponível em www.acolhendopensamentos.blogspot.com]